Neste meu 4x4 invento e re-invento. Ponho, tiro, dou e voltar a tirar.
Falo com os bonecos e respondo por eles.
Recebo chamadas no meu telemóvel de brincar.
Mantenho conversas infindáveis com amigos e amigas de fingir.
Desenho e pinto. Invento letras e musicas. Danço.
Faço de conta que agora estou no supermercado.
Logo a seguir invento um restaurante. Faço cozinhados.
Escrevo (à minha maneira) receitas.
Convido amigos imaginários para um repasto.
Dou consultas com seringas e termómetros.
Uso termos de qualquer médico mais especializado.
Nos intervalos tomo remédios como se fosse um adulto.
Tiro sangue como uma heroína. Vejo as tensões em silêncio.
Tenho sempre uma ou outra pergunta para as enfermeiras.
Atiro corações à mamã e ao papá.
Todos os dias visto-me a preceito.
Nunca me esqueço de lavar os dentes.
Sei que tudo que caí no chão precisa desinfecção.
De vez em quando, sempre que sinto as forças mais fracas,
Quando acho que não merecia ter medo da felicidade,
pego nas minhas asas de fazer de conta, e voo para fora daqui e de mim,
e vejo-me chegar, definitivamente, a casa.
Neste meu 4x4 invento e re-invento-me. E não me chateio com nada.
Vai já longo o tempo que vou ficando por aqui.
Podia ficar triste, mal humorada, calada, desmotivada. Mas não fico.
Penso e acredito na Cura.
E sei que ela, um dia destes e sem asas imaginárias, nos vai levar de volta para casa.
EU ACREDITO, INDISCUTIVELMENTE, NA CURA!
Um beijo da vossa Cázinha